segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Reapresentação


Notou a diferença?

Sempre gosto de mudanças. Em um período ou outro de tempo qualquer, invento de dar essas repaginadas espontâneas. E o resultado muda de foco... nem sempre pra melhor, pois as mudanças significativas são as que realmente importam. Pode-se dizer que esta é uma nova mudança, um recomeço. O pequeno relicário na outra face do blog, em meio ao caos de todo dia. Aqui eu fico por tempo interminável, reabastecendo as sensações que me são proveitosas; nada daquelas que empacam as ideias feito burritos de carroças velhas. Aquelas que me fazem viajar nos tempos antigos (e quase sempre piegas), mas onde a felicidade fica mais concentrada. Com um pouco de drama, naturalmente.
Um equilíbrio delicado de tristeza, humor e horror.
Lhes apresento... meu bebê pergaminho.

"As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa.
Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes.
Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.
Já que aludi a ele, o único dom que me salva é a distração. Ela preserva minha sanidade. Ajuda-me a agüentar, considerando-se há quanto tempo venho executando este trabalho. O problema é: quem poderia me substituir? Quem tomaria meu lugar, enquanto eu tiro uma folga em seus destinos-padrão de férias, no estilo resort, seja ele tropical, seja da variedade estação de inverno? A resposta, é claro, é ninguém, o que me instigou a tomar uma decisão consciente e deliberada — fazer da distração minhas férias. Nem preciso dizer que tiro férias à prestação. Em cores.
Mesmo assim, é possível que você pergunte: por que é mesmo que ela precisa de férias? De que precisa se distrair?
O que me traz à minha colocação seguinte.
São os humanos que sobram.
Os sobreviventes.
É para eles que não suporto olhar, embora ainda falhe em muitas ocasiões. Procuro deliberadamente as cores para tirá-los da cabeça, mas, vez por outra, sou testemunha dos que ficam para trás, desintegrando-se no quebra-cabeça do reconhecimento, do desespero e da surpresa. Eles têm corações vazados. Têm pulmões esgotados.
O que por sua vez, me traz ao assunto de que lhe estou falando esta noite, ou esta manhã, ou seja lá quais forem a hora e a cor..."

Markus Zusak - A menina que roubava livros.


Tem vezes que a pergunta faz uma visita em meu subconsciente: de onde vêm as histórias? Elas já são fabricadas prontas, entregues aos seus leitores pelo correio-coruja, embaladas em papel pardo? Produzidas por alguma cabeça altamente provida dos mais diversos tipos de universos parelelos em cenários que se modificam? Seria um tanto impossível, alucinatório. Então me ocorreu outra resposta mais plausível. Em sua maioria, as grandes histórias surgem nos momentos de inlucidez, na hora mais improvável do lugar mais impróprio para se estar. São as grandes histórias que surgem do nada que levam maior tempo para serem inventadas. São cenários inventivos, sonhadores, tragando o mau humor para onde ele não pode ser despertado. Drenando a esperança para o antro das páginas escritas. Inicia-se a viagem sem fim com aqueles passageiros que preferem mil vezes embarcarem no mundo avesso do que continuarem esperando sentados as próprias histórias se desenvolverem.
A cabeça de um escritor (por mais controverso que ele seja) é tomada de hipóteses. Decisões que se modificam, passos que retornam, profecias que se cumprem. Não imagino como funciona o cérebro de muitos, mas o meu literalmente embarca nessa viagem; ele não compra a passagem de volta. É uma transição somente de ida para os lugares unicamente criados sob seu proveito. E isso depende da atual gama de emoções, sentimentos e estado de espírito. Gosto especialmente do tempo nublado; serve como maior inspiração nas horas cujo meu propósito e seguir a linhagem do conto. Nessas horas não sinto a participação dos ponteiros do relógio. Entrego-me ao ruído sereno da chuva e deixo a imaginação tomar a frente das suposições, ao invés de ser comandada pela parte racional. É um trabalho exclusivamente relaxante, além de estressante, preocupante e simplório. Cura as doenças da mente como outro remédio jamais seria capaz de fazê-lo. Escrever não deixa um gosto ruim no céu da boca.
Muito pelo contrário... deixa a gente com um gostinho de quero mais.
É nesse espaço que recomeçarei do zero. O pontapé inicial de meu próprio conto de maravilhas. Sim, as inspirações vêm de alguns poucos lados. Antes de mais nada, um pós-script de agradecimento às fontes sagradas de inspirações.
Ao meu conto infantil favorito, Alice in Wonderland, que me fez descobrir a possibilidade da existência do impossível.
Ao mestre do terror encantado, Tim Burton, que me conquistou de alma e coração e que até hoje lidera as engrenagens de minhas linhas com sua imaginação mágica e viciosa de outro mundo.
Aos livros que percorreram comigo os passos da infância, adolescência e revigorada fase adulta, permitindo-me um limite irrestrito de tempo fantasioso: Desventuras em Série, Harry Potter, As Brumas de Avalon, O Ladrão de Raios e por aí vai...
Às minhas recentes trilhas sonoras que permitem horas a fio de pensamentos soltos que se complementam nas falas e ações de meus personagens: Paramore, Kings of Leon, Marjorie Fair, The Cure e, não menos importante, Muse.
E por último, à minha estação que está prestes a começar. A cede de minha velha nova história...
Outono.
Dadas as apresentações, interrompo as parafernalhas. Hora de embarcar. Aqui recomeço minha saga para aqueles que acreditam igualmente nas palavras que acabei de digitar com meus dedos incansáveis.
Sejam novamente bem-vindos ao meu empório.

Um comentário:

  1. Eu sempre vejo poesia, arte, beleza, cor, tempo, sons, pensamentos e sonhos nas coisas que tu escreve. Não é aquele tipo de escrita vazio, sem entrelinhas, totalmente translúcido ao olhar mais obtuso. Isso é o interessante na escrita. Ver através do que se escreve.

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