sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ironias ao Acaso


Notaram a cara nova (de novo) do meu cantinho? Muito mais atraente assim... ^^
Hoje voltei para casa - depois daquele lanche nada calórico (ironia) - ouvindo The Verve. Há quanto tempo Bittersweet Simphony não tocava no meu rádio... me fez clarear as ideias, repensar alguns fios sem lógica que não foram bem desenvolvidos. Minha noite superou minha tarde no curto passeio pela avenida pipocada de turistas insistentes. Me pergunto o motivo para os povos de fora em massa ainda não terem voltado para suas tocas... parece que a cidade encolhe à vista de tanta gente. Confere um brilho a mais na atmosfera branda do fim de verão.
Meu turno pelo Google Earth mudou minhas expectativas em um giro de 160 graus. Meu cenário épico de outono já não é mais o mesmo. Nada de grandes mudanças, apenas uns consertos aqui e ali. Não sou muito fã de mudanças abruptas... elas tiram a essência da questão. Modificam às apalpadelas aquilo que já havia sido registrado durante meses, ou anos. Mas às vezes é preciso seguí-las, adotá-las como um meio renovado de reescrita. E foi o que eu fiz. Mudei a localidade de todos os personagens com um simples clique no delete. Através desse novo endereço, compilei meu epílogo definitivo. A resenha que faltava para completar o roteiro do filme que passa seguidamente em minha cabeça.
Mas antes da narrativa, outra daquelas explicações obrigatórias para quem lê o que se é escrito nessa face de empório.
Aproveitei a deixa para criar um espaço com os títulos dos livros que já li e pretendo ler, ocasionalmente residindo na biblioteca da universidade local da saga, Claire Norms. Foi divertido editar partes de histórias que servem de inspiração, como aquele convite irrecusável ou aquele doce indispensável. O livro Café Resenha é da autoria de Jason Curtis Worden, o único filho de uma das famílias fundadoras do condado de Durhan, Inglaterra. Na época de sua juventude altamente provida de imaginações investigativas, seu passatempo era fuçar nos documentos de seu velho pai, enterrados sob a madeira oca do sótão. Diários relatando tempestades da guerra civil e, consequentemente, a chegada de povos nada comuns para as tradições locais do século XIX (o que ao pé da letra significa a chegada dos vampiros mais antigos da saga no condado pacato da velha Inglaterra). Anos mais tarde, quando tais vestígios preciosos das memórias foram esquecidos no mesmo sótão empoeirado, meu querido Jason tornou-se um famoso cineasta da Grande Londres, com o acréscimo da última herdeira dos Worden, sua filha Lauren. Os passatempos foram deixados de lado. Mas havia algo inquestionável para se cumprir.
Muito mais atraente assim (de novo). Aqui vai o epílogo...

"Condado de Durhan, 1987, Reino Unido. Residência dos Worden, sótão.

Anoitece. Na sincronia lenta e ritmada do vento, as copas das árvores curvam-se umas sobre as outras, como se cochichassem algum segredo diante da janela circular que range. Visão normalmente sinistra após a meia noite. As sombras resvalam em minha cama improvisada no sótão, onde seguidas vezes me embrulho em um grosso cobertor sobre tantos outros cobertores igualmente enxovalhados que formam um retângulo desproporcional ao tamanho de meu corpo.
Estamos na metade do outono, uma estação rigorosa para os europeus. E também cercada de mistérios. Circulam nas redondezas do distrito de Derwentside os mitos, de modo que os ouvintes nunca são capazes de desvendar a real intenção por trás dessas histórias narradas. Os habitantes sedentos por contos locais – como eu – fazem parte das diversas narrativas, acreditando realmente na credibilidade dos fatos, ocorridos há tanto tempo... Mas, como certa vez disseram os mais velhos, a sabedoria traz conseqüências irreversíveis, portanto muitos preferem somente sentar-se na roda e deixar os ouvidos vagarem para outros planos.
Obviamente, não sou como esses muitos.
Começaremos com uma apresentação. Sou o único filho da linhagem de uma das famílias mais renomadas de Durhan – de início um pequeno povoado com poucos moradores na área de baixa renda da Inglaterra, atualmente reconhecido como um apreciado monumento. Isso se deve em grande parte às construções vitorianas que se ultrapassaram o tempo, preservadas ao longo dos anos em um vasto cenário cinza, e aos atuais habitantes que pouco relatam suas histórias e muito comentam sobre os acontecimentos dos quais não lhe dizem respeito. Meu nome é Jason Curtis Worden, o rapaz incomunicável na maior parte do tempo que encontra a própria voz quando está sozinho, cercado de livros sobre histórias locais e desventuras familiares; heranças que nunca foram devidamente desbravadas. Bom, estou aqui para finalizar o serviço inacabado. Ou para recomeçá-lo, dependendo do ponto de vista.
É preciso deixar claro que este não é nenhum tipo de diário. Nada de documentos oficiais, segredos escondidos, confissões proibidas. Estas folhas não servem somente como um passatempo para alguém gravemente desprovido de sono em uma madrugada de domingo, mas também como uma prova de que se, algum dia outra pessoa pertencente à árvore genealógica dos Worden encontrá-las, saberá que essa história não foi passada em branco, como uma despedida breve após a guerra. Algumas décadas vividas, quando eu provavelmente estiver velho demais para me lembrar das mãos e dos olhos que acompanharam essa narrativa, passos pisarão nesse mesmo sótão que cheira a pinho, couro e páginas de livros. Outro par de mãos encontrará o vestígio de nossos antepassados e então o que restar do conto seguirá seu curso.
Os Worden complementam a origem dessa cidade tipicamente européia. Vista de fora, é comumente conhecida – e comentada pelos mesmos que preferem as histórias das quais não lhe dizem respeito – como uma família fora do padrão comum, se comparada com outras linhagens, o que aqui significa, no mínimo, o lar dos ingleses esquisitos. As marcas coloridas, camufladas no cinza. Por muito tempo fomos o ponto central dos burburinhos que circulavam pelas ruas, narrados como os entes desprovidos de riquezas, excluídos do patamar econômico, nível inferior na sociedade rigorosa daquela época. Eram tempos difíceis para os que aparentavam serem os menos influentes.
Haviam as contradições. Somente um verdadeiro Worden conhecia seus segredos nos padrões que deveriam ser seguidos. Uma família incomum que guardava em seu antro uma riqueza jamais vista ou compartilhada por outros nomes importantes na alta sociedade. A simples existência do segredo compelia nossos antepassados a ignorarem toda a discórdia e a rejeição do poder inquisidor europeu. Um verdadeiro Worden reconhecia seus princípios e lutava para defendê-los, não importavam os meios e extremos exigidos por tal causa. E, uma vez que cada membro da família se compelia em levar o segredo para o túmulo, qualquer ofensa ouvida era facilmente suportável.
Um legítimo Worden colocava-se sempre em perigo.
Como toda ação obtém uma reação, nosso caso não foi diferente. Descobri a resposta há algumas semanas atrás, em meio a uma faxina forçada nos aposentos da casa onde moro com meus pais. Uma simples organização nos documentos de meu pai revelaram a causa que mudara minha vida abruptamente, se não permanentemente. Diários guardados em gavetas embutidas e madeiras ocas, escritos por Timothy Neil Worden desde seus dezenove anos, minha idade exata. Verdadeiras relíquias que narravam as desventuras de um jovem em sua transição para adulto, sua passagem pelos tempos nublados de guerra. Seu ponto de vista sobre ambas as batalhas que deixariam conseqüências marcantes nos próximos anos. O relato completo da miscigenação que envolveria dois mundos completamente diferentes e ameaçadores um ao outro.
O mundo dos humanos, dos oprimidos durante o longo período torturante da guerra civil.
O mundo dos verdadeiros possuidores do trono, da supremacia que liderava os povos responsáveis pela exterminação quase completa dos habitantes da região.
A batalha interminável entre seres humanos e criaturas amaldiçoadas que durou meio século.
Ok. Sou apenas um humano, afinal de contas. Vítima de meu próprio entusiasmo. É difícil contê-lo em certos pontos da narrativa. No decorrer das próximas linhas, vou tentar ser objetivo, sem incluir observações fantasiosas que possam assustar as mentes mais fracas. Este é apenas o rascunho desenvolvido do que realmente aconteceu. Do que me foi relatado quando eu ainda usava fraldas e tinha medo de adormecer sozinho. O motivo para a existência de minha família... E as contradições que fizeram com que todos os moradores deploráveis repensassem suas próprias histórias e deixassem de se preocupar com o legado que unicamente nos diz respeito.
Nunca fomos ameaçadores. Apesar de todo o resto que nos condenou a esta causa perdida, jamais fomos motivo de antipatia àqueles que não se intimidavam com nossa aparência. Sempre comandados por dois pares de olhos – o da razão, que nos compelia a trancafiar o segredo que revelava o que realmente éramos; e o do coração, que nos lembrava dos motivos opostos à justa causa, nos guiando aos princípios de amor, união e proteção entre os familiares e amigos mais íntimos. Obviamente, nenhum deles partilhou de nossa real confidência, para que não corrêssemos o risco de sermos descobertos, e para não colocá-los no mesmo risco do qual estávamos envolvidos. Era um fardo que não deveria ser passado adiante.
Naturalmente, a obsessão em não nos revelarmos e não confiarmos nem mesmo em nossas sombras tinha um motivo mais válido, o que me traz de volta à minha súbita empolgação.
Um verdadeiro conto de terror imortalizado no coração dos Worden, guardiões do segredo da batalha. Pode-se dizer que somos os únicos que sobreviveram para continuar narrando esse episódio épico de Durhan. Curiosamente, o único lugar que guarda os escombros do conflito surreal – do quais os relatos de Timothy ainda permanecem sob a placa de madeira oca – localiza-se exatamente abaixo deste sótão. Na escada circular a oeste, onde tempos chuvosos proporcionam a ocasião perfeita para uma visita no vasto bosque aos fundos da pequena casa, antiga morada de outra família tão poderosa e magnificente quanto à que pertenço. Habitantes cuja longa existência deve-se às nossas palavras cuidadosamente bifurcadas atrás dos dentes.
A família cujo segredo nos pertence.
Uma família de vampiros protegida pelos guardiões.
Então surge a ironia. Quão tolo um garoto pode ser em momentos raros de insanidade. Apenas uma palavra solta e todo o resto estarão perdidos para sempre. A madrugada estendeu-se por tempo demais, e com isso minhas reações atingiram o auge proibido. Limite restrito. Barreiras lacradas.
Um segredo, afinal de contas. Que não deve ser pronunciado sem permissão.
A não ser que você seja um bebedor de sangue cuja própria vida não merece ser anunciada aos quatro ventos.
Sou o último guardião dos Worden. Ainda me resta uma última missão a ser cumprida. Aqui fica mais um relato incompleto sobre uma causa perdida que nunca teve um fim.
Que, pelo contrário, está prestes a começar."



E aqui também termina o relato de um de meus personagens preferidos. Mais algumas horas indispensáveis de sono e voltarei ao empório, talvez para visitar a biblioteca.
P.S.:Quem diria, além do The Verve eu escutei Coldplay. Coisa rara em minhas trilhas... Ao que parece, eles ajudaram.




Boa noite! (:


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